Geovane Carneiro, de 38 anos, é subchef do melhor restaurante do Brasil há 13 anos 5b3f6n
Aos 18 anos, o baiano de Conceição do Coité deixou o município de pouco mais de 60 mil habitantes para "tentar a sorte na cidade grande"
Há 13 anos, ele é o subchef do D.O.M., o segundo na hierarquia de chefia dos fogões do restaurante mais conceituado do Brasil, que há sete anos figura na lista dos 50 melhores do mundo
Mas antes de conquistar o cobiçado posto de "braço direito" do chef Alex Atala, Carneiro teve de servir muito café, pinga e coxinha em uma lanchonete da capital paulista até conquistar seu espaço
O talento para a culinária foi descoberto por acaso. Chamado para substituir o cozinheiro da lanchonete quando ele faltou, viu as coxinhas que fez esgotarem em poucas horas, enquanto as do titular esfriavam na vitrine
"Naquele tempo eu tinha preconceito, achava que cozinha era coisa de mulher. Não era o meu sonho. Mas tudo o que eu fazia saía demais. Só depois de um tempo fui perceber que já estava escrito. O meu caminho já estava traçado", disse o chef
Após três anos como copeiro da lanchonete, percebeu que era hora de mudar e, decidido a encontrar um emprego como garçom, comentou com alguns clientes que procurava uma nova oportunidade
"Aprendi na marra mesmo. Foi tudo olhando, errando, aprendendo, fazendo. Você vai tentando até pegar a mão", disse o subchef do D.O.M.
"Precisa ter talento, mas precisa ter mais dedicação. Cada um tem a sua oportunidade na vida. Você tem que pegar e agarrar com as duas mãos, segurar e correr atrás até conquistar o seu espaço. Eu fiz isso. A oportunidade surgiu e fui atrás. Graças a Deus, estou conseguindo crescer", afirmou
O cardápio inspirado na culinária brasileira sob um olhar contemporâneo fez com que o D.O.M. entrasse pela primeira vez em 2006 no ranking da conceituada revista britânica Restaurant, que elege os 50 melhores restaurantes do mundo, com o 50º lugar
No ano seguinte, saltou para o 38º posto (2007), oscilou para o 40º lugar em 2008, mas subiu novamente para o 24º (2009), depois 18º (2010), 7° lugar (2011), 4° (em 2012) - e hoje é cotadíssimo para chegar ao topo da lista
O segredo do D.O.M.? A constante busca por perfeição
"Acho que não tem um segredo ou um só fator. É trabalhar com ingredientes de qualidade e fazer bem feito, buscar sempre a perfeição. O segredo é a perfeição. O cuidado com o sabor, a apresentação. Fazer cada prato como se fosse o primeiro", revelou o subchef
Geovane comanda a cozinha do D.O.M. quando Atala está fora em viagens de negócios - o que acontece com frequência
Geovane garante que um eventual 1º lugar na lista, embora muito bem vindo, não mudará o modo como eles encaram a tarefa
"A responsabilidade é a mesma, seja no 1º ou no 50º lugar. Não muda", ressaltou ele
Para Carneiro, a transformação constante é outro ingrediente que contribuiu para o progresso do restaurante
Atala quem cria todos os pratos, embora Geovane dê alguns pitacos
"A criação é dele [Atala] e eu executo. Tudo o que eu aprendi foi com ele. Venho seguindo os os dele há 16 anos, praticamente", disse o subchef
Mas o chefe do restaurante que tem opções de até R$ 495 surpreende pela simplicidade
Fiel às suas raízes, não abre mão do arroz com feijão no dia-a-dia, embora já tenha experimentado pratos e sabores do mundo todo
Famoso nos bastidores, é tímido e avesso à entrevistas: prefere a linha de produção aos holofotes
É também bem chegado à família: todos os anos, leva o filho de 9 anos e a esposa para a Bahia, visitar os pais e irmãos - dois deles, são também chefs em restaurantes de Salvador
É dele, entretanto, uma das criações mais famosas do Dalva e Dito, o outro restaurante de Atala: a galinhada caipira, um sucesso que também surgiu por acaso
"Todo mundo pedia. Quando o D.O.M. entrou na lista dos 50 melhores, a gente falou: 'vamos comemorar com a galinhada!'", disse Geovane
"Para crescer, tem que se ter humildade e força de vontade. Não adianta querer ar por cima dos outros. Arrogância não funciona no nosso ramo. Um dia você está por cima e no outro você tropeça e cai. Então tem que ter humildade sempre e disposição pra trabalhar", contou o subchef