O que dizem organizações de ajuda humanitária sobre saques em Gaza 1y2j1e
POSTAGENS NAS REDES SOCIAIS AFIRMAM QUE HAMAS DESVIA DOAÇÕES DE ALIMENTOS E REMÉDIOS, MAS ONU E MSF DIZEM NÃO TER EVIDÊNCIAS DISSO 1s4b6t
Após quase três meses de bloqueio da entrada da ajuda humanitária para civis em Gaza, os primeiros caminhões com suprimentos começaram a chegar ao território na última semana, mas diferentes versões sobre o que tem ocorrido na área de conflito se multiplicam nas redes sociais. 5z6s1j
Postagens analisadas pelo Verifica afirmam que o Hamas desvia as doações, retendo parte da ajuda e vendendo o restante a preços exorbitantes para os civis famintos.
Entidades internacionais que operam a ajuda humanitária na região, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e os Médicos sem Fronteiras, rejeitam essas alegações. Essas organizações afirmam não haver evidências de que há desvio nas doações por parte do Hamas e criticam as dificuldades impostas por Israel para que a ajuda chegue à Faixa de Gaza.
Nos últimos dias, houve saques, invasão de um galpão e até caos generalizado em um centro de distribuição. Há registro de mortos e feridos.
Na sexta-feira, 30, o porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), Jens Laerke, disse que "Gaza é o lugar com mais pessoas famintas no mundo" e que "100% da população está em risco de fome extrema".
Veja a seguir o que se sabe até agora sobre a distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza:
Como funcionam as entregas em Gaza?
As principais vias para entrega de ajuda humanitária e entrada e saída de pessoas no território são:
Rafah, que faz fronteira entre a Faixa de Gaza e Egito;Erez, no extremo norte da Faixa de Gaza;Kerem Shalom, entre Israel e Gaza;Kissoufim, que foi aberta para agem de ajuda humanitária em novembro do ano ado, após uma série de exigências dos Estados Unidos.
Os Médicos Sem Fronteiras explicaram ao Verifica que o envio de suprimentos a Gaza é dividido em duas fases. A primeira parte consiste em conseguir que os suprimentos cheguem ao território, o que é feito em coordenação entre o governo israelense e a ONU. Esse processo inclui uma vistoria prévia de cargas que contenham madeira ou metal, materiais que não podem cruzar a fronteira e que podem comprometer a entrega caso sejam identificados.
ada a vistoria e uma vez dentro do território, o estoque é istrado pelas equipes de ajuda. No caso dos MSF, parte do material pode ser doado em algumas ocasiões para organizações humanitárias parceiras.
De acordo com os MSF, as agens de entrega de mantimentos enfrentam bloqueios desde o ataque de 7 de outubro de 2023 do Hamas, que deixaram 1,2 mil mortos e 250 sequestrados. O governo israelense justifica os bloqueios acusando o Hamas de roubar e desviar ajuda humanitária.
O mais recente bloqueio começou em 2 de março e durou 11 semanas. No dia 19, o governo de Israel cedeu à pressão internacional e liberou a entrada de alguns caminhões. No dia 22, eles chegaram a Gaza com farinha, alimentos para bebês e equipamentos médicos.
Israel disse que liberou a entrada de 100 caminhões. Mas, segundo a ONU, o número é considerado insuficiente para suprir as necessidades dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza. Antes da guerra, por exemplo, o lugar recebia cerca de 500 caminhões de suprimentos por dia.
Em entrevista coletiva na última quarta-feira, 28, o chefe do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, Jonathan Whittall, disse que não há provas da alegação do governo israelense.
"Israel alegou publicamente que a ajuda da ONU e de ONGs está sendo desviada pelo Hamas. Mas isso não se sustenta diante de uma análise mais aprofundada. Não temos evidências de que a ajuda coordenada por canais humanitários confiáveis ??tenha sido desviada", disse.
Whittall itiu que existe roubo de ajuda humanitária desde o início da guerra por parte de gangues criminosas, e que as forças israelenses não estariam impedindo sua atuação.
Os Médicos sem Fronteiras disseram ao Verifica que tem sido de enorme dificuldade levar ajuda a Gaza por conta das restrições impostas pelo governo de Israel.
"Também podemos dizer que não temos qualquer evidência da veracidade das alegações de desvio da ajuda por parte do Hamas e podemos garantir que nossos suprimentos e a ajuda entregue por MSF tem ido para a população", comunicaram.
De acordo com a entidade, o desvio de ajuda humanitária é uma preocupação comum em zonas de conflito. Mas a população de Gaza, em especial, tem sofrido de forma sistemática por conta da privação de ajuda.
Os MSF afirmaram que o maior problema enfrentado pelas equipes desde o início da guerra tem sido o "sistema restritivo e arbitrário" de importações de Israel e as "severas limitações" quanto a quantidades de material que podem ser transportadas. Eles estimam ter suprimentos suficientes para encher 100 caminhões no Egito e na Jordânia, mas a autorização de entrada é limitada.
Em declaração à imprensa feita no dia 28, a American Near East Refugee Aid (Anera), organização que ajuda refugiados e vítimas de conflito na Palestina, Líbano e Jordânia desde 1968, também disse não haver evidências confiáveis de que a ajuda fornecida por organizações internacionais experientes seja desviada pelo Hamas.
"Grupos como a Anera operam sob rigorosos procedimentos de verificação, conformidade e monitoramento para garantir que a ajuda chegue aos civis necessitados, e não aos combatentes", diz o comunicado.
Anunciado como diretor da GHF, o ex-fuzileiro naval estadunidense Jake Wood, com experiência em operações de distribuição de ajuda humanitária, renunciou no domingo, 24.
"Ficou claro que não é possível implementar este plano e ao mesmo tempo respeitar rigorosamente os princípios humanitários de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência, que não abandonarei", disse, segundo publicou a BBC.
Segundo a agência Reuters, a GHF divulgou um comunicado após a renúncia de Wood dizendo estar "decepcionada", mas prometeu não desanimar nos esforços. "Nossos caminhões estão carregados e prontos para partir", disse o grupo, e acrescentou: "Planejamos expandir rapidamente para atender toda a população nas próximas semanas".
Uma investigação do jornal The New York Times mostrou que a contratação de empresas teoricamente neutras para a distribuição de ajuda humanitária estava nos planos de Israel desde o final de 2023, com o objetivo de minar o Hamas e driblar a ONU.
As Nações Unidas alertaram que a ideia poderia restringir a distribuição de alimentos e, além disso, facilitar as intenções israelenses de deslocar a população do Norte de Gaza, já que a distribuição ocorreria, a princípio, na região Sul.
O Verifica procurou a GHF por e-mail, mas não recebeu resposta sobre os questionamentos até o fechamento deste texto.
Que episódios ocorreram envolvendo saques de doações?
Após quase três meses de bloqueio, a chegada de suprimentos nas regiões afetadas pela guerra foi marcada pelo desespero. Na mesma semana, ao menos três casos de saques de suprimentos e tumulto durante a distribuição desses artigos foram relatados pela imprensa.
3 de junho: Pelo menos 27 pessoas foram mortas e dezenas ficaram feridas por disparos perto de um local de distribuição de alimentos no sul da Faixa de Gaza. Segundo informações da Reuters, militares israelenses disseram que abriram fogo contra um grupo de pessoas que deixou a rota de o designada para o centro de distribuição e se aproximou dos militares de forma "suspeita", sem dar mais detalhes sobre a natureza da ameaça. Um porta-voz do Exército disse que o caso será investigado. 1º de junho: Ao menos 31 pessoas morreram e 170 ficaram feridas após ataques israelenses próximos a um ponto de ajuda humanitária, em Rafah. Testemunhas informaram que no momento dos tiros, uma multidão se deslocava para receber mantimentos ainda nos primeiros momentos da manhã. O número de mortos e feridos foi informado pelo Hamas e confirmado por funcionários de um hospital da Cruz Vermelha, que atenderam as vítimas. Israel negou os ataques. A GHF informou que entregou ajuda "sem incidentes", enquanto o exército israelense disse não ter conhecimento de ferimentos por disparos e informou que o assunto está em investigação. 28 de maio: Uma multidão invadiu um armazém da ONU no centro de Gaza à procura de alimentos que estavam preparados para distribuição. Duas pessoas morreram e diversos ficaram feridos, mas ainda não há certeza sobre como as mortes aconteceram. Em um comunicado, a ONU escreveu que "as necessidades humanitárias ficaram fora de controle após 80 dias de bloqueio total de toda a assistência alimentar e outros tipos de ajuda em Gaza." Relatos nas redes sociais que surgiram logo após o conflito acusavam o Hamas pelo saque e pelas mortes. No entanto, essa versão não foi confirmada. 27 de maio: Um local de ajuda humanitária da GHF em Rafah foi invadido por populares, ocasionando em uma fila que esperava por pacotes de comida. Houve tumulto e o Exército israelense afirmou ter disparado tiros de advertência na área externa do local para que o controle fosse restabelecido. Na confusão, uma pessoa morreu e mais de 40 ficaram feridas. Autoridades israelenses chegaram a divulgar que o Hamas tentou impedir que civis chegassem ao centro de distribuição, mas isso não foi confirmado por fontes independentes. Após esse episódio, a GHF interrompeu temporariamente o serviço de entregas. 23 de maio: Um dos quinze caminhões carregados com suprimentos foi saqueado na Faixa de Gaza, enquanto estavam a caminho de padarias apoiadas pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU. Philippe Lazzarini, diretor da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), escreveu no X que as imagens dos saques não deveriam chocar, já que a população de Gaza estava faminta e privada de comida, água e medicamentos.
Em novembro de 2024, um comboio de mais de 100 caminhões foi saqueado na Faixa de Gaza. Os motoristas relataram que foram obrigados a descarregar suprimentos, na agem da fronteira de Kerem Shalom.
Israel acusou novamente militantes do Hamas de roubar os caminhões para abastecer a própria força. A UNRWA classificou os saques como resultado de um "crescente desespero entre os palestinos" e das políticas de autoridades israelenses que desconsideram "suas obrigações legais sob o direito internacional".
