União Europeia dá aval para Bulgária adotar o euro em 2026 iqo
País cumpriu requesitos necessários para entrar na zona do euro, como o controle da inflação. Maioria dos búlgaros é contra adoção de moeda única.A União Europeia deu sinal verde nesta quarta-feira (04/06) para que a Bulgária adote o euro como moeda nacional a partir de 1º de janeiro de 2026. 326m3d
Um relatório da Comissão Europeia concluiu que, após reduzir a inflação, a Bulgária cumpre todos os requisitos para se tornar o 21º membro da Zona do Euro.
Segundo o documento, o país, membro da UE desde 2007, "está pronto para adotar o euro e sua economia está suficientemente preparada para isso".
O Banco Central Europeu também deu um parecer positivo, destacando a "dedicação da Bulgária em fazer os ajustes necessários".
Controle da inflação permite entrada
A Bulgária havia planejado substituir sua moeda nacional, o lev, pelo euro em 2024, ano em que se tornou membro do Espaço Schengen, mas a adoção foi adiada devido à taxa de inflação relativamente alta de 9,5% naquele ano.
Para entrar na zona do euro, os Estados-membros devem demonstrar que sua economia convergiu com as dos demais países e que suas finanças estão sob controle.
Por exemplo, devem comprovar que a inflação está controlada e não ultraa em mais de 1,5 ponto percentual a taxa média dos três países com melhor desempenho da UE.
No ano ado, a Bulgária cumpriu todos os critérios, exceto o da inflação.
Agora, a Comissão prevê uma inflação de 3,6% para a Bulgária em 2025 e de 1,8% em 2026, abaixo do valor de referência.
O país ainda precisa da aprovação de 55% dos membros da UE. Mesmo Estados que não adotam o euro podem decidir sobre o caso búlgaro.
Contudo, o aval é considerado provável, pois todos os Estados-membros da UE, com exceção da Dinamarca, se comprometem a ingressar na zona do euro assim que cumprirem os requisitos.
A partir da aprovação, o lev e o euro circularão simultaneamente no país por um mês. Após esse período, cédulas de lev ainda poderão ser trocadas nos bancos por 12 meses, e por tempo ilimitado no Banco Nacional da Bulgária.
Trajetória conturbada
A trajetória da Bulgária rumo à zona do euro tem sido conturbada, já que o país enfrenta forte instabilidade política, atravessando sete eleições em três anos — a última em outubro de 2024.
A Bulgária é um caso atípico, pois vinculou sua moeda ao euro desde o início da proposta de união monetária europeia, em 1999, antes mesmo de entrar na UE. O país também possui baixos níveis de dívida pública — apenas 24,1% do PIB anual — bem abaixo do limite de 60% exigido.
A aprovação pela Comissão Europeia ocorre 18 anos após o país de 6,4 milhões de habitantes ingressar no bloco. A Bulgária é considerado o país mais pobre a integrar a União Europeia.
O primeiro-ministro búlgaro, Rossen Jeliazkov, celebrou a decisão.
"Mais um o adiante no caminho da Bulgária rumo ao euro... Isso é resultado de anos de reformas, comprometimento e alinhamento com nossos parceiros europeus", disse ele em uma publicação no X.
"Graças ao euro, a economia da Bulgária se tornará mais forte, com mais comércio com os parceiros da área do euro, investimento estrangeiro direto, o a financiamento, empregos de qualidade e rendas reais", afirmou a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen.
"O relatório de hoje é um momento histórico para a Bulgária, a área do euro e a União Europeia", afirmou o comissário europeu de Economia, Valdis Dombrovskis.
"Claro que o euro é mais do que uma moeda. Depois de a Bulgária se tornar membro pleno do espaço Schengen no início deste ano, isso a aproxima ainda mais do coração da Europa", acrescentou.
Medida impopular
No entanto, o avanço gerou uma reação negativa na Bulgária, onde pesquisas recentes indicam que quase metade da população se opõe à adoção do euro.
De acordo com uma pesquisa de opinião realizada pelo instituto búlgaro Mjara em maio, mais da metade dos adultos (54,9%) são contra a introdução do euro em 2026, enquanto 34,4% são a favor da adesão.
Segundo uma pesquisa conduzida pelo Instituto Gallup International Balkan na segunda quinzena de maio, 33,4% veem "benefícios" na introdução do euro e 32,9% temem "mais desvantagens".
O temor é que a adoção de uma moeda subordinada ao Banco Central Europeu gere consequências negativas para a economia e soberania do país.
Cerca de mil pessoas protestaram nesta quarta-feira (04/06) em frente ao prédio da Assembleia Nacional, no centro de Sófia, segurando cartazes com os dizeres "Não ao euro" e "O futuro pertence aos Estados soberanos".
A manifestação foi organizada pelo partido de oposição pró-Rússia Vazrajdane.
"Se a Bulgária entrar na zona do euro, será como embarcar no Titanic", disse Nikolai Ivanov, ex-funcionário sênior do governo, à agência de notícias AFP durante outro protesto recente que pedia a manutenção da moeda nacional.
Histórico do euro
Quando as primeiras notas e moedas de euro foram lançadas em 1º de janeiro de 2002, apenas 12 países faziam parte da área da moeda única, incluindo França, Alemanha, Irlanda, Itália e Espanha.
A zona do euro foi crescendo gradualmente para 20 membros, com a adesão de Eslovênia, Chipre, Malta, Eslováquia, Estônia, Letônia, Lituânia e, em 2023, da Croácia.
Os critérios para adesão incluem estabilidade de preços, finanças públicas saudáveis e taxas de câmbio estáveis, além de inflação controlada.
Os países também devem ar por um "período de espera" de dois anos, durante o qual sua moeda não pode flutuar excessivamente em relação ao euro. Esse processo serve para demonstrar que a economia está convergindo de forma sustentável com a da zona do euro.
Além da Bulgária e Dinamarca, Polônia, Romênia, Suécia, República Tcheca e Hungria ainda não introduziram a moeda única.
Apesar de se comprometer a usar o euro, alguns países evitam realizar os esforços para cumprir os critérios de conversão. A Dinamarca obteve uma cláusula de exclusão, enquanto a Suécia rejeitou o euro em um referendo em 2003 e não tem data para aderir.
Na Polônia — maior país fora da zona do euro — as autoridades têm demonstrado pouco interesse, apesar de reconhecerem a obrigação futura. O vencedor da eleição presidencial deste domingo, Karol Nawrocki, fez campanha defendendo a manutenção da moeda nacional zloty.
Quais são as vantagens e desvantagens de adotar o euro?
Em teoria, o euro oferece taxas de juros mais baixas para empresas e consumidores, maior facilidade no comércio entre países e fim das operações de câmbio entre moedas.
Por outro lado, tira parte da autonomia dos países sobre suas políticas econômicas. Eles deixam de definir suas próprias taxas de juros e enfrentam restrições sobre gastos e déficits públicos.
Além disso, a crise da dívida europeia entre 2010 e 2015 ainda gera receios. Após a Grécia itir que seus déficits e dívidas eram maiores que o declarado, o país declarou moratória e a turbulência se espalhou. Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Chipre tiveram seu resgate fiscal condicionado à adoção de duras medidas de austeridade, que afetaram principalmente trabalhadores do setor público e aposentados.
gq/ra (afp, ap, dpa)