Como tarifas de Trump sobre alumínio e aço impactam o Brasil 4s1b4m
Segundo maior exportador de aço para os EUA, atrás apenas do Canadá, Brasil pode ter mercado interno pressionado pelas sobretaxas americanas. Setor pede proteção da indústria nacional e diálogo.Entrou em vigor nesta quarta-feira (04/06) o novo pacote de tarifas dos Estados Unidos sobre o aço e o alumínio. A medida, anunciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, 6r840
eleva de 25% para 50% a taxa de importação dessas commodities, intensificando a pressão sobre as exportações brasileiras - que já vinham sendo afetadas por restrições comerciais anteriores.
O Brasil, um dos principais fornecedores desses produtos para os Estados Unidos, vinha ampliando sua participação no mercado americano há dois anos.
"É uma grande honra aumentar as tarifas sobre o aço e o alumínio de 25% para 50%, com efeito a partir de quarta-feira, 4 de junho. Nossas indústrias de aço e alumínio estão voltando como nunca", escreveu o presidente americano em sua rede social Truth Social.
Em 2018, em seu primeiro mandato, Trump realizou um movimento parecido e estipulou uma tarifa de 25% sobre o aço e 10% sobre alumínio importado. Contudo, posteriormente, o presidente americano concedeu isenções a vários países, incluindo Canadá, México e Brasil, limitando o benefício alfandegário a uma cota, agora cancelada por decreto.
Ipea projeta queda na produção e exportação
Em fevereiro, Trump já havia encerrado as isenções tarifárias que beneficiavam o Brasil e imposto uma taxa de importação de 25%.
Na ocasião, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) simulou o desdobramento da medida no mercado brasileiro e estimou que a tarifa de já teria um "impacto importante" no setor de metais ferrosos do país.
Segundo o Ipea, sob a taxa de 25%, o Brasil enfrentaria queda de produção de 2,19% e contração de 11,27% das exportações - o equivalente a 1,5 bilhão de dólares (R$ 8,4 bilhões) e 1,6 milhão de toneladas.
"Considerando que quase toda a redução se daria nas vendas para os Estados Unidos, as exportações para este país teriam queda de 36,2%", diz o instituto. O principal impacto previsto pelo Ipea está na exportação de produtos semiacabados de alumínio e aço, como placas e lingotes, que concentram 90% da exportação brasileira para os EUA.
Dependência coloca mercado externo e interno em risco
O desdobramento deve ser ainda maior com a tarifa a 50%. Segundo o Comex Stat, plataforma do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços que compila a balança comercial brasileira, os EUA foram o principal destino de ferro e aço do Brasil e o segundo país que mais adquiriu alumínio brasileiro em 2024. Os metais são essenciais em indústrias como a automobilística, construção civil, máquinas e energia.
O total de aço vendido pelo Brasil aos EUA cresceu 74% entre 2022 e 2024, e o país se tornou o segundo maior exportador do produto em volume para o mercado americano, atrás apenas do Canadá. No caso do alumínio, foram 147,2 milhões de dólares (R$ 850 milhões) vendidos em 2024, ou 42 mil toneladas.
Os dados são do de monitoramento do comércio global, mantido pela istração de Comércio Exterior dos Estados Unidos. Para o aço, a plataforma considera a importação de planos, semiacabados, canos e tubos e outros produtos. São também calculados o alumínio bruto, em folhas e tiras, arame, barras, vergalhões, canos, peças fundidas e forjadas e órios.
Tamanha dependência pode colocar as exportações brasileiras em risco, disseram especialistas ouvidos pela DW, quando ainda se considerava uma tarifa de apenas 25%.
O coordenador de Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados, Josemar Franco, avaliou que a medida é desafiadora para o Brasil, pois o país contava com isenções para estas exportações durante o governo de Joe Biden.
O salto de zero para 25% - e, agora, para 50% - também gera uma competição mais ferrenha no mercado interno, inundado pelo produto redirecionado de outros países.
"O que a gente observou depois dessa primeira medida é que houve um redirecionamento das exportações chinesas para o Brasil com preços muito agressivos por uma série de fatores, o que faz com que a indústria doméstica, mesmo com as alíquotas [protetivas brasileiras], não tenha condições de competir com esses preços chineses", disse Franco à DW.
"Se os chineses continuarem agressivos em termos de preço, o Brasil vai precisar adotar medidas para conter importações, já temos visto medidas antidumping, [por exemplo]", completou.
Impacto macroeconômico é menor
Além da pressão na indústria nacional, a redução de 2,19% da produção total prevista pelo Ipea pode ter desdobramentos no restante da indústria, ainda que o impacto não seja sistêmico. Os técnicos do Ipea consideram que o peso das tarifas de 25% sobre a exportação total é menos agressivo, uma vez que o setor de metais ferrosos não ocupa fatia determinante na economia brasileira.
Em termos macroeconômicos, o impacto no PIB seria pequeno, diz o instituto, que calculou uma queda de 0,01% do PIB e de 0,03% das exportações totais sob tarifas de 25%.
Esta também é a visão do ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil, Welber Barral. Segundo ele, ouvido em fevereiro pela DW, o mercado interno pode ajudar a absorver o impacto negativo da medida sobre as exportações. "Comparado à produção, a exportação brasileira é pequena. A indústria depende muito do mercado interno, tanto de aço como de alumínio. Claro, as empresas querem continuar a exportação. É importante, em dólar, um mercado . Mas o impacto não é tão grande", disse Barral.
Arno Gleisner, diretor de Comércio Exterior da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil, acredita que levará um tempo até que a produção nacional americana ocupe o espaço deixado pelas importações. "A aplicação de taxas para importação de aço nos Estados Unidos foi estendida a todos os exportadores. Favorece a indústria americana, mas esta não poderá atender o mercado em substituição às importações, pelo menos no curto e médio prazo. Então em princípio não ocorreria uma situação desfavorável para o Brasil", disse.
Setor pede proteção da produção nacional
Em nota, a Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) afirmou que as novas tarifas aumentam a volatilidade e impõem riscos adicionais às cadeias produtivas. "A decisão americana amplia o cenário de incertezas e reforça a importância de instrumentos de defesa comercial".
A entidade pede cautela na adoção de medidas emergenciais de mitigação. "A Abal reforça a importância de o Brasil evitar decisões fragmentadas ou setoriais e de construir, com base técnica e visão de longo prazo, uma estratégia nacional para o fortalecimento da soberania industrial. O verdadeiro avanço está em consolidar uma cadeia produtiva resiliente, menos vulnerável às oscilações externas e capaz de transformar recursos em valor agregado para o país", escreveu.
A entidade representativa das produtoras de aço, a Aço Brasil, se disse "preocupada" com o novo cenário e reafirmou pedido por diálogo e cooperação entre Washington e Brasília. "Ressaltamos a importância da atuação do governo brasileiro, por intermédio dos Ministérios das Relações Exteriores (MRE) e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), visando o reestabelecimento do acordo bilateral estabelecido em 2018, que permitia a exportação de aço brasileiro aos EUA dentro de cotas, sem a aplicação de tarifas adicionais", disse em nota.
Governo avalia respostas
Até o momento, o governo brasileiro não anunciou nenhuma medida em resposta à taxação, como elevar as tarifas sobre importações americanas, mas cogita negociar exceções ou cotas para exportar uma quantidade fixa de aço e alumínio aos EUA livre de sobretaxas.
O governo vem adotando uma postura de cautela em relação à política americana, com os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Indústria, Geraldo Alckmin, recomendando "prudência e diálogo" sobre possíveis retaliações.
Em abril, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi mais incisivo, acusou a medida americana de "arbitrária" e disse que as tarifas "desestabilizam a economia internacional e elevam os preços."
O Ipea também vê desafios nos caminhos que podem ser tomados pelo governo federal. "Dado o peso da economia americana, a fragilização da OMC, o desdém explícito da atual istração americana quanto à obediência a regras multilaterais e a subjetividade relacionada ao princípio da segurança nacional, evocado pelo país como justificativa para as tarifas sobre o aço, só restam ao Brasil duas alternativas: negociar ou retaliar", diz o documento.