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Documentário sobre curso de atuação de Shia LaBeouf é ainda mais louco do que você pensa 151n5s

Estreando em Cannes e filmado por um de seus ex-alunos, Slauson Rec narra o coletivo de teatro que LaBeouf co-fundou no centro-sul de Los Angeles 4l6l3f

19 mai 2025 - 11h57
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Shia LaBeouf em Slauson Rec
Shia LaBeouf em Slauson Rec
Foto: Divulgação / Rolling Stone Brasil

Em 2018, Shia LaBeouf estava de coração partido, à deriva, num estado que ele descreveu como "doença espiritual". Então, o ator fez o que muitos de fazíamos naquela época quando precisávamos de ajuda séria: foi ao Twitter. No vídeo que LaBeouf postou na plataforma (agora chamada de "X", blá blá blá), ele declarou que teve uma ideia. Havia um espaço no Sul de Los Angeles chamado Slauson RecCenter. Ele estaria lá no sábado de manhã, e no próximo sábado, e no sábado seguinte. Quem quisesse, podia aparecer. Seria meio que uma "aula", mas não espere lições de atuação. LaBeouf estava realmente procurando colaboradores para algum projeto ainda indefinido. Experiência prévia na indústria não era necessária. Os participantes só precisavam ter "uma história que precisava ser contada". E tinham que ser devotos da verdade. Ser 100% verdadeiro é algo muito importante para LaBeouf. Lembre-se disso. 6d2y2z

Um dos que responderam ao chamado foi um texano de 21 anos chamado Leo Lewis O'Neil. Recém-chegado à Cidade dos Anjos, ele vinha ando por tempos difíceis desde que se mudou. A ideia de não só conhecer uma estrela de cinema, mas de participar de uma nova empreitada criativa liderada por LaBeouf parecia boa demais para deixar ar. E o centro ficava a cinco minutos de onde ele morava. O primeiro sábado foi mais um acontecimento do que uma aula, para ser honesto. Mas havia uma energia imprevisível, pulsante, nos exercícios e trocas que era inegável.

Aspirante a cineasta, O'Neil havia levado uma câmera por hábito. LaBeouf permitiu que ele filmasse tudo. No sábado seguinte, O'Neil perguntou se poderia ser o arquivista oficial do que logo seria conhecido como Slauson Rec Theater Company. O ator disse sim.

Anos depois, muito depois das cadeiras terem sido arremessadas, dos gritos em volume de turbina terem cessado, das lágrimas secadas, e do que foi um farol de esperança para alguns artistas em formação ter se despedaçado nas rochas da incapacidade de um homem conter seus próprios demônios, O'Neil fez outra pergunta a LaBeouf. Ele poderia transformar as filmagens acumuladas em um documentário sobre o que deu errado? Teria que ser 100% verdadeiro, respondeu LaBeouf. Mas, mais uma vez, ele disse sim. Graças a Deus. Caso contrário, não teríamos um dos retratos mais devastadores, crus e sem concessões de uma celebridade perdendo completamente o controle já registrados para a posteridade.

Exibido em estreia no Festival de Cannes 2025 neste domingo (via Rolling Stone), Slauson Rec captura o bom, o ruim e o horrível dos dois anos e pouco de existência da companhia. Mas sugerir que o resultado final é um empate triplo seria mentira — o "horrível" ganha de lavada aqui. Documentando como a impaciência crescente de LaBeouf com o grupo levou a surtos de fúria bíblica, agressões físicas e um comportamento de babaca em nível profissional, o filme pinta um retrato verdadeiramente assustador do ator. Mesmo que O'Neil sinalize que esta é uma obra feita com carinho por seu antigo mentor, LaBeouf ainda aparece como um monstro. Aqueles que se deliciam com o "Shia-denfreude" — o prazer de ver mais provas públicas da sua ruindade — estarão no paraíso. O resto de nós é forçado a assistir de olhos semicerrados, como quem presencia um acidente de carro que só piora a cada segundo.

Todo esse barulho, fúria e surtos categoria 5 vêm depois, naturalmente. Slauson Rec trata aqueles primeiros dias gloriosos, cheios de promessa e proximidade com uma estrela, de um jeito que reflete o próprio encantamento dos alunos. LaBeouf ofereceu àqueles sonhadores não apenas um espaço seguro para falhar, mas um "laboratório" onde podiam soltar a imaginação ao lado de alguém com influência suficiente para abrir portas. Ele oferecia incentivo, entusiasmo e a sensação de que todos faziam parte de sua missão de criar "o maior número possível de igrejas criativas". O'Neil também destaca alguns dos "apóstolos" de Shia, especialmente Zeke, um jovem hispânico de vinte e poucos anos com o modesto objetivo de se tornar "um dos maiores atores de todos os tempos", e uma jovem sincera e apaixonada por cavalos chamada Sarah. Eles podem parecer escolhas aleatórias para focar. Spoiler: não são.

Ainda assim, o foco geral está na comunidade utópica orbitando em torno dessa figura intensa. Nem mesmo as dúvidas sobre o impacto deles na comunidade do entorno no Sul de LA — será que estão sendo inclusivos? Socialmente responsáveis? — e a perda do espaço original desanimam o grupo. Quando começam a ensaiar 10 minutos de uma peça maior que LaBeouf chama de The New Human, o clima mistura entusiasmo "vamos fazer esse show" com um leve ar de culto. A recepção positiva a algo que lembra uma releitura moderna de A Centopeia Humana os faz acreditar que o objetivo de seu líder de mudar o mundo está bem próximo.

Corta para: março de 2020. A pandemia drena parte do ímpeto do grupo, e as reuniões no Zoom viram arenas de disputas de poder, com LaBeouf exercendo poder de veto. Todos estão frustrados. Ninguém quer desistir. A solução encontrada é um drama ambientado em um centro de testagem de Covid que mistura teatro, improviso e cinema. Chama-se 5711 Avalon, será encenado em um estacionamento e está destinado a se tornar, segundo LaBeouf, "uma epopeia do tamanho do Cirque du Soleil". Nesse ponto, O'Neil já nos mostrou o que acontece quando o guru do grupo perde a paciência, em uma cena onde ele grita por falta de foco e abandona os ensaios. Quando começam a ensaiar no espaço externo, o pavio de Shia está ainda mais curto. Um dia, a peça em desenvolvimento é a segunda vinda de A Morte de um Caixeiro Viajante. No outro, é "um lixo total". Notas crípticas e contraditórias são dadas, e quando não são seguidas à risca, tudo vira um caos. A tempestade se aproxima… cada vez mais.

E quando chega, com ventos capazes de destruir tudo, boa sorte. Slauson Rec não suaviza nem edulcora as cenas em que LaBeouf despeja torrentes de abuso verbal, circula sem camisa pelo set (onde nem cadeiras estão seguras), ou parte para cima de um ator por "ter atitude". As cenas são apresentadas de forma crua, nos deixando boquiabertos. Não há outra forma de descrever o momento em que LaBeouf agride fisicamente o menor e mais jovem Zeke ou encurrala outro ator contra a parede com o antebraço em seu pescoço, senão como agressões. A ameaça de violência paira sobre cada ensaio, que já a dos 70 dias seguidos, interrompida apenas por explosões reais. Sarah, a mais devota das discípulas de Shia, recusa-se a visitar a mãe doente no hospital por medo de ser demitida se faltar. LaBeouf espera até o funeral da mãe. Depois de ensaiar suas cenas com outra atriz que considera "mais digna", ele a demite.

São esses momentos constrangedores e impossíveis de desviar os olhos — e são muitos — que serão lembrados quando se falar de Slauson Rec. E, acredite, são difíceis de digerir. Você sente vergonha por LaBeouf, que claramente transforma seu monólogo interno de autodesprezo em ataques externos contra pessoas que só querem agradá-lo. Ele é o primeiro a dizer que é seu pior inimigo — mas, escute, meus sapos, por que deixaram um escorpião como eu subir em suas costas? Você sente empatia por quem está preso nesse ciclo com ele. E sente raiva ao perceber que sua fama, aos olhos de muitos envolvidos, lhe dá carta branca para ser horrível. (Sarah até aponta isso. Não adianta.) A ideia de que o "gênio" tudo perdoa, e de que a "honestidade acima de tudo" justifica qualquer atitude, é testada aqui até o limite. Nada disso é desculpável. É um retrato de um artista como megalomaníaco autoritário.

Quando O'Neil encerra esse projeto de duas horas e meia com um epílogo, dois anos após a última apresentação de 5711 Avalon e a dissolução do grupo, ele consegue capturar dois momentos extraordinários de verdade. Está na casa de LaBeouf, gravando uma espécie de entrevista pós-morte. O astro diz que aprovou o filme por ser "o sinal de virtude supremo". Olhem como eu sou legal por aceitar isso, diz ele, deixando seu autoconhecimento brigar com sua autodepreciação e ego. Esse é o primeiro momento. O segundo vem quando LaBeouf ite que deve desculpas a todos — a alguns mais do que a outros. Ele não sabe se conseguirá se redimir, mas quer tentar. E então ouvimos um choro atrás da câmera. O'Neil deixa a cena rolar por um tempo desconfortavelmente longo, com seus soluços audíveis e LaBeouf silenciosamente se emocionando em frente à câmera.

Você percebe que Slauson Rec trata de muitas coisas — dos perigos das boas intenções ao fato de que a fama não elimina seus defeitos, apenas os amplifica. Mas, no fim das contas, é um ato extraordinário de busca por encerramento. E é difícil não imaginar que, de pé na plateia, ao receber uma ovação no festival de cinema mais prestigiado do mundo, O'Neil tenha sentido esse encerramento também. LaBeouf estava lá, com um bigode que parecia uma mistura de policial dos anos 1970 com pistoleiro dos anos 1870. Mas cedia os holofotes ao cineasta, sabendo que aquela era a noite de O'Neil. Este documentário será, em última instância, o legado de toda a experiência do Slauson Rec. A estrela queria mudar o mundo. Em vez disso, ficou de lado e viu a vida de outra pessoa mudar bem diante de seus olhos.

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